quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Recordações (José Guilherme Barbosa)


Voltei sim, voltei a um lugar bem distante, onde eu ainda criança brincava com meus irmãos e amiguinhos. Ficava a noite naquela algazarra sem fim. Lembro-me dos coqueiros, da mesma praça, do mesmo chafariz. Tudo ali estava intacto pelo tempo passado, já bem distante nem sei mais quando. Da manhã ao nascer do sol, eu disse, mas este sol não é o mesmo daquela época?

E quando chegou a noite, toda enluarada, com aquele esbranquiçado, eu olhava o firmamento de ponta a ponta, era uma claridade só. Vez por outra aparecia uma pequena camada de nuvem branca, mas a claridade era imensa, imitava o dia, mas esta não é a mesma lua que nos iluminava naqueles tempos passados?

Na nossa pequenina cidade onde com poucos carros, ainda bem antigos, ficavam nas garagens, no canto da praça; a praça com aqueles bancos toscos de madeira cortada e roliça, onde os casais de namorados exibiam as suas juras de amor, contavam estórias um ao outro e com mil promessas de fidelidade para o futuro.
A vida caminhava ao seu roteiro, mas naquele lirismo total, tudo se fazia no ritmo do romantismo da época. Alguém ligava o rádio, e vinha a música do “reclame” do cigarro Beverly, com marca americana só para dizer que era importado. Ainda bem no canto da pracinha, uma senhora ligava outro rádio e sintonizava numa estação de Belo Horizonte, e logo vinha “Fascinação”, uma música romântica da época cantada por Carlos Galhardo... a praça ficava bem alegre, com casais de namorados, com músicas e com o sol nascente ainda com faixas de orvalho caindo lentamente pelos galhos das árvores.

No centro da praça existe ainda uma pequena fonte, do estilo daquela de Trevi, na Itália, onde os namorados jogavam pequenas moedas para que o namoro marcasse a sua passagem por ali. Aquelas moedas eram como juras de amor, em que quando alguém olhasse ao fundo e conseguisse ver a mesma moeda, era sinal que o amor dos dois estava perpetuado.

Ao cair da noite, as Rádios ou os rádios ligados, transmitiam a oração da Ave Maria e, logo em seguida, vinham os programas com músicas românicas. E neste contexto entravam em cena: Francisco Alves, Sílvio Caldas, Dalva de Oliveira, Gilberto Alves, Carlos Galhardo, Paraguaçu, João Petras de Barros, Gastão Formentes e cantoras como Linda Batista, Aurora Miranda, Carmem Miranda etc. 

Eram as famosas cobras da música romântica, aliás, até hoje essas músicas ainda são sucessos, cito por exemplo “Duas mulheres e um homem” gravada por Linda Batista e Izaurinha Garcia, ambas em 1940. ”Recordar é viver”, pois aqui estamos revivendo algo do passado em minha pequena cidade, que há tantos anos eu queria visitá-la novamente; e agora estou realizando este meu desejo revendo os amigos e lugares onde passei a minha juventude.

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